terça-feira, novembro 11, 2014

Espelho Retrovisor - Um Tributo aos Engenheiros do Hawaii

Saiu agora há pouco do forno a coletânea "Espelho Retrovisor", seleção de releituras de canções que fazem parte do vasto - porém seleto - repertório dos Engenheiros do Hawaii nos último quase 30 anos de carreira ("quase", pois a banda chega à casa do 3.0 janeiro próximo).

Minha relação de afeto com os discos e canções dos Engenheiros remonta a primeira vez que ouvi, na íntegra, o disco "O Papa é Pop", no não tão longínquo ano de 1990. Aquele estrondo musical de "Era um Garoto..." ou a diversidade de inserções melódicas de outras canções, sob forma instrumental e com vinhetas, ou até mesmo uma autoparódia no mesmo disco da canção original, ou, ainda, uma canção intencionalmente com voz em reverse (trás para frente)... Tudo isso era o que havia de mais progressivo no mundo para um garoto da periferia do ABC paulista, rodeado pela pasteurização vazia do samba e do sertanejo, protótipo da generalização "pop" que ocorreria em todos os estilos e manifestações musicais anos mais tarde. Sensação parecida me ocorreu, anos mais tarde, quando conheci a música progressiva enquanto um conceito de música, ao ouvir o Dark Side of The Moon, do Pink Floyd. Enfim, o ânimo juvenil de ouvir o Papa é Pop tomou conta de mim. A cada audição uma porta de percepção se abria para o moleque...

Não deixei mais de ouvir e pesquisar sobre a banda desde então. Uma das poucas bandas brasileiras que abriram show do Nirvana... Uma das pouquíssimas que rodou pela União Soviética (!)... Uma das únicas que nasceu no mesmo ambiente do Pink Floyd, uma escola de arquitetura. Esse ultimo fato talvez ajude um pouco a compreender a linguagem das canções dos Engenheiros, repletas de alusões metafóricas, por vezes antônimas. O disco Gessinger, Licks e Maltz sintetiza tudo de maneira sublime...

Apesar de achar forçação de barra dizer que a banda é engajada em questões políticas e sociais (o próprio Humberto Gessinger, líder da banda desde o começo, diz que suas canções "falam por si"), algumas músicas parecem-me de cunho altamente progressista ou libertário mesmo (O Sonho é Popular, A Violência Travestida Faz Seu Trottoir, Arame Farpado, A Promessa....). Enfim, ouvir Engenheiros é um exercício permanente e prazeroso de lidar com reticências...

O Tributo traz artistas da "nova guarda" da MPB e do cenário alternativo (nome que carece de maior definição nesses tempos de acesso a informação na palma da mão, com as bençãos divinas, sem precisar mais de Faustões e Gugus como em 1990), percorrendo toda a diversidade musical do Engenheiros, em suas diversas fases. De releituras próximas ao original à outras de grande variação rítmica e melódica. Como toda releitura que traz ressignificações ao original fica sob suspeita, principalmente quando se trata de algo que envolva tantas paixões como o universo musical, cheio de xiitas, penso que o resultado do disco é bastante satisfatório. A preferência por essa ou aquela canção vai de cada um. Valeu demais pelo conceito e pela justíssima homenagem.

Para maiores detalhes do disco, bem como o link para download, clique na imagem: